Era um domingo. Bororo, Bozo, Giseuda, Gisélia, Humberto, Macumbé, Fernando, Zana e Borba brincavam de esconde-esconde. Mesmo sendo mais inocentes que as crianças da cidade, eles tinham seus momentos de malícia. Borba gostava de se esconder com Zana. Sempre achavam um bom lugar para permanecerem ocultos, de preferência que durasse muito tempo para que fossem encontrados.
Finalmente a oportunidade surgiu. Borba teve a chance de pôr em prática mais uma de suas ideias geniais: lembrou-se de uma caixa de lápis de cor, da fábrica Faber Castell, a preferida pelos alunos, que havia ganhado da mãe. Mesmo gostando do presente e assumindo o risco de fracassar com o plano, arriscou.
Trancaram-se no galpão. Zana estava com um vestido estampado, mostrando parte das pernas grossas e empoeiradas, aquelas que roubavam algumas noites de sono do nosso herói. Ele olhou para o chão, meio envergonhado, pensando em desistir da ideia, mas venceu o medo e disse:
- Zana, dou-lhe esse lápis de cor, vermelho, novinho, da Faber Castell, se você mostrar sua calcinha. Ela arregalou o olho, pensou na possibilidade de ganhar algo tão especial, mesmo correndo perigo de ser flagrada, mas aceitou a proposta. Pediu para que Borba fechasse os olhos e só abrissem quando ela mandasse. Assim ele o fez.
- Pronto, pode abrir. Zana, fechando os olhos para não o encarar, ergueu e abaixou a saia num ritmo acelerado, mas foi o suficiente para que Borba ficasse inerte, sem fala, extático como uma estátua. Com os olhos luminosos, guardando a cena para a eternidade. Mesmo num relance, jamais esqueceu desse momento. Mas ele precisava ver mais além. Estava disposto a aumentar a proposta para saciar sua curiosidade.
- Dou-lhe a caixa inteira, se você abaixar só um pouquinho a calcinha – disse Borba, entusiamado.
Zana disse que aí já era demais. Que não faria tal coisa. Borba insistiu e para convencê-la, tirou da sacola que carregava a tão almejada caixa. Mostrou os lápis um a um, cor a cor, buscando argumentos que conseguissem fazê-la mudar de opinião. Foi nesse exato momento que ele passava a exercer o dom natural de vendedor. Fez a propaganda da Faber Castell com tanta ênfase que, se fosse visto pelos diretores da empresa, teria sido imediatamente contratado, mesmo com a sua idade precoce. Zana cedeu. Pediu mais uma vez que ele fechasse os olhos. Desta vez Borba deixou escapar pelas frestas dos dedos a visão tão esperada. Acompanhou todos os movimentos. A barra da saia ficou presa pelo queixo da moça e a calcinha até os joelhos.
- Pronto, pode abrir.
Borba encarou, sentiu o coração acelerar, o suor escorrer pela testa e a respiração mais ofegante. Sua inocência extinguia-se por completo. Já poderia dizer que tinha visto as partes íntimas de uma mulher, pois o máximo que conseguira até o momento era apenas uma foto de uma atriz, numa revista, com parte dos seios de fora. Agora não, ele estava diante de uma cena real. Era Zana, exibindo-se.
- Achei vocês, achei vocês! – gritaram os meninos.
Voltaram a brincar, menos Borba que se ausentou, indo até o curral para meditar no que tinha visto. Ficou horas olhando para o nada, mirando o horizonte.
Borba tornava-se homem.
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