Há alguns meses, os pecuaristas rondonienses participaram ativamente da campanha de vacinação do rebanho bovino, tendo um papel fundamental na prevenção e erradicação da febre aftosa, além de extirpar também outros flagelos, tais como o carbúnculo, a brucelose e a famigerada mosca-dos-chifres. Desta feita, lá estava eu acompanhando todo o processo que acontece duas vezes por ano. Os mugidos misturavam-se aos sons uníssonos e indefiníveis dos aboios que ecoavam pelo curral: - Ouou!, hea hea!, hen hen!... O bodejo não possuía nenhum código linguístico que o definisse, mas o gado entendia muito bem a mensagem e obedecia às ordens, seguindo rumo ao brete, só aguardando a agulhada que viria furar seu couro grosso. De sobra, ainda restava receber o ferrete fumegante, alaranjado de tão quente, para evidenciar a marca de seu dono. Escorei os cotovelos num cavalete e fiquei admirando a cena. Como essas vacas entendem esses rumores atípicos? Como saem satisfeitas,
abstrações, devaneios, vestígios de som, respingos de arte, fé e vida que vazam pelas frestas da alma